"ONDE HOUVER O DESEPERO QUE LEVE A ESPERANÇA"

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29 de agosto de 2020

METAMORFOSE: É POSSÍVEL MUDAR?






 Todo mundo conhece o velho clichê da lagarta que vira borboleta, não é mesmo? A lagarta toda feia, esquisita e esquecida que se torna um dos maiores símbolos de beleza que a borboleta traz à natureza. Lagarta e borboleta. Pois bem, de fato, ela traz a representação do que é a transformação na nossa vida. De uma forma de vida que rasteja perante a sua  simples existência podemos nos tornar a mais bela de nossas versões: Colorida, alegre e que alça voos que antes eram impossíveis para a nossa versão anterior.


O interessante é que, rotineiramente, nos definimos e classificamos a quem está próximo ou até desconhecidos dos quais nunca conversamos entre lagartas e borboletas. E, assim, definimos, os "ruins" e os "bons", os "defeituosos" e os "perfeitos". Que tal uma curiosidade? Entre borboletas e mariposas são encontradas mais de 250.000 espécies. Então, até mesmo entre as fases mais belas, cada uma possui uma beleza própria, de si. Mas, chegando à questão, vacilamos em apenas nos dividirmos entre borboletas e largatas e sabe por que? Porque não se resume a isso. Esquecemos a fase mais importante e, pode-se dizer, a verdadeira fase mais bela : o casulo.



Existe fase mais bela? Quando, ali, ocorre toda a transformação? E por que esquecemos dessa fase? Por que só damos atenção para elogiar a borboleta e depreciar a lagarta? Porque ainda somos lagartas. Temos pensamento fixo (mindset fixo, como chama Carol Dweck em Mindset) e nos vemos como permanentes. 


Nos vemos como seres que devem rastejar a apenas um caminho, numa fase que apenas consumimos, assim como a lagarta, e consumimos, consumimos, apenas para estocar reservas e mais reservas (no nosso caso, financeiro). Imaginamos que nascemos daquela forma e ali pereceremos. Por isso, apontamos e temos pré-conceitos sem conhecermos. Definimos pessoas entre ricos e pobres, de sucesso e fracassadas. E a verdade é que os fracassados somos nós. Fracassados são aqueles que acreditam no fracasso. Os fracassados são aqueles que nascem e persistem em morrer como lagartas.



Quem já chegou à fase de borboleta sabe. Descobre que, na verdade, a mudança é sim possível para aqueles que não ignoram fases. Os que reconhecem o processo. Aqueles que reconhecem seus defeitos, erros e imperfeições e que ao invés de rejeitar e permanecer, abraçam o que são. Aceitam o que são. Levam a vida como aprendizado e buscam sempre o melhor de si. E é aí que se descobre o casulo. 



É onde descobrimos, também, que é a fase mais difícil de se passar e esta é a sua maior beleza. Muito diferente do modo que todos imaginamos o casulo, como somente uma fase "parada" esperando a beleza acontecer, é, na verdade,  totalmente o inverso. Inclusive, no próprio processo da borboleta. 


Durante a fase de lagarta, busca-se apenas consumir e estocar. A fase mais fácil não é mesmo? Estocar, pois, na fase de casulo não haverá como a futura borboleta buscar alimento e, por isso, utilizará da reserva que a lagarta produzir. 


Na fase do casulo é onde ocorre a beleza. A mudança é de dentro para fora. Ácidos que seriam utilizados para digerir esse alimento começam a trabalhar, também, na DESTRUIÇÃO, isso mesmo, destruição da lagarta de dentro para fora. Porém, nem tudo é destruído, partes antigas, células-tronco (que podem se transformar em qualquer outro tipo de célula)  são poupadas e serão utilizadas para a sua reconstrução, agora, como borboleta. 


Acha que é só isso? A lagarta, nova borboleta, ainda tem que dispor de uma energia estrondosa para "quebrar" o casulo e conseguir sair, já que ali se acumulou um monte de "sujeira da mudança" que tornou o casulo firme, necessitando de movimentos lentos, mas fortes que permitam a sua saída. E esse tempo necessário para sair, varia de espécie para espécie.


Conseguiram entender? 


A fase mais trabalhosa e bela, na maioria das vezes, nem é lembrada por nós. E, por isso, insistimos em ser lagartas, rastejar, consumir e acreditar que é apenas isso. "Nascemos e morreremos assim". Nós morremos de medo do casulo. Morremos de medo de sermos destruídos de dentro para fora, desconstruindo tecidos: preconceitos, maus hábitos, vícios, pecados, fraquezas, erros, derrotas e tantas outras partes de nós que não nos cabe mais. Não cabe mais a nós persistimos numa fase que é tão fácil, cômoda e inicial em nossa vida. 


Morremos de indisposição para aprender e descobrir nossas células-troncos: forças desconhecidas nossas que nos permitem mudar e ser qualquer coisa que quisermos. E, também, aprender coisas que não estão em nós, mas com outras pessoas e aprendizados que consumimos na fase de lagarta e apenas estocamos e não usamos. 


Morremos de fraqueza para destruir tudo aquilo que ficou para trás: arrependimentos, ferimentos, pessoas, pecados, vícios e tudo aquilo que desconstruimos, mas ainda permanecem como cacos e nos assustam na hipótese de voltarem a qualquer momento. Assim, dificultando a possibilidade de quebrarmos e finalmente sairmos desse doloroso casulo.


Morremos por nossa vulnerabilidade, pelas feridas que nos ocorrem dentro do casulo. Que ocorrem na quebra do casulo. Que ocorrem no medo de voar por não confiarmos em asas tão recentemente construídas e na altura que já chegamos. Será que construi essas asas direitinho? Parece até que não conseguiremos, cairemos e tudo voltará a fase de rastejar, consumir só que com asas quebradas. 


Nós, simplesmente, morremos. 


Morremos e não vivemos.


Não vivemos a dádiva que nos foi dada: Nascer, crescer, morrer... e voar.


A verdade é que devemos viver a vida como um eterno casulo, deixando para trás tudo que nos mantém como lagartas, na esperança de um dia nos vermos borboletas com as asas que tanto sonhamos.


É difícil? Muito. Mas é lindo. Porque se fosse fácil, não teria graça. A vida é um jogo arriscado a se viver e aproveitar o momento. Perdemos e recomeçamos, num eterno casulo. Nos tornando a cada dia, a nossa mais bela versão. Construindo nossas asas dia após dia.


 "Mas espera aí, quando enfim chegarei a ser borboleta?"

 

Bem...


...Me diz você! 🦋


                                     - Antônio Juarez



Referências:


PATRÍCIA , Karlla. O que acontece dentro do casulo da borboleta? Diário de biologia. [S.I].[2019?] Disponível em : <https://diariodebiologia.com/2010/05/o-que-acontece-dentro-do-casulo-da-borboleta/> Acesso em: 29 de ago.de 2020



Indicações:


MINDSET, Carol Dweck. (Livro)

The Call to the courage, Brené Brown (documentário)

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