Se me permitir, gostaria de começar com uma notícia: "Pessoas estão morrendo". Triste, não é? Assim como tantas morrem todos os dias de acidente de carro, infarto, acidentes domésticos, etc. Infelizmente, acontece. Porém, há pessoas que poderiam ter sido salvas de sua morte. Pessoas que foram direto para morte por decisão própria, mesmo sabendo das altas taxas de risco que aquela decisão levaria. Morreram. E para cada decisão de uma pessoa, não foram uma, mas duas que morreram.
E posso assustar ainda mais?
As taxas poderiam ter sido reduzidas ao mínimo, possibilitando pelo menos uma dessas duas a viver. Ou, ainda mais. Seria possível inclusive, da forma correta, até feito com que a pessoa não quisesse tomar aquela decisão. Não obrigando, mas permitindo a devida reflexão de sua escolha. Independente de qual fosse. Você então deve pensar: "Não acredito! Como podemos deixar isso acontecer??". " A sociedade está sabendo disso? Como não estão fazendo nada?" Quer a verdade?
Na verdade sabemos.
"E porque não estamos fazendo nada? Devemos fazer".
Então (caso você esteja se perguntando isso) você gostaria de ajudar?
Se não, bem, não sei bem o que dizer se você não está ligando para vidas humanas. Cada um pensa o que lhe cabe. Só não faça nada com esse seu pensamento, ok? Pois não envolve só você.
Mas, se sua resposta foi sim. Você se importa com essas vidas perdidas, EM DOBRO, a cada decisão.
"Sim, mas é claro"
Então, te pergunto:
Você permitiria...
A legalização do aborto?
Em choque né? Mas preste atenção.
Em algum momento pedi que você fosse a favor do aborto?
"Sim, ué, você acabou de falar".
Tudo bem, mas eu falei: "apoiar" o aborto?
Acho que não.
Te explico ( se quiser claro, todos tem direito de discutir e crescer, ou até me fazer mudar de idéia, ou simplesmente se manter na sua condição de conforto. Como sempre: A escolha é sua!)
As mortes as quais citei são de diversas mulheres grávidas que morrem todos os dias . Eu disse TODOS OS DIAS. E não somente pela violência doméstica ( que, infelizmente, também fazem parte desse cálculo) mas também por decidirem abortar.
"E por que?"
Porque elas adotam o caminho mais difícil, que é o aborto clandestino e ilegal, onde são tomadas medidas perigosas que põem sua vida em risco em nome do desespero ou, alguns casos, da própria vontade.
Enquanto isso,
Leis proíbem essa situação por declarar crime uma realidade que não para. Abortos e mais abortos realizando mortes e mais mortes. Mas nos papéis oficiais? O aborto não existe. Dados mostram e a lei os tornam invisíveis.
Segundo dados da pesquisa "Aborto no Brasil: o que dizem os dados oficiais?", publicada no dia 21 de fevereiro deste ano, entre 2006 e 2015 mais de 770 óbitos maternis ocorreram como causa principal o aborto, com possível crescimento de 29% considerando óbitos que citam o aborto mas com outra causa principal. Infelizmente, para a pesquisa, dados no Brasil sobre o tema são incompletos. Além disso, com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 2010 e 2014 foram 55 milhões de abortos no mundo, sendo 45% destes foram inseguros. Segundo o estudo, "leis restritivas aumentam a ocorrência desses. A ilegalidade, contudo, não impede a prática, estando relacionada à desigualdade social(...)".
Mesmo com dados oficiais que não refletem completamente o número de abortos no Brasil, o perfil de mulheres encontrado para maior risco de óbito por aborto são "as de cor preta e as indígenas, de baixa escolaridade, com menos de 14 e mais de 40 anos, vivendo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste, e sem companheiro."
A sociedade se sente protegida contra esse crime brutal que é o aborto, mas apenas ocorrem sem ninguém ver, ou melhor vendamos os olhos. A estátua vendada do poder Judiciário parece significar muito mais que a imparcialidade deste, parece representar bem mais a nós como observadores para temas como esse.
Mas eu por acaso estou falando até aqui que gosto do aborto? Claro que não. Estou apenas dizendo que, agora, neste mesmo instante onde parou de ler, alguém realizou aborto alguma hora nesse dia. E não morreu o filho somente, a mãe também.
"Mas espere aí, você quer me dizer que aceita que uma mãe mate o filho"
Onde eu disse isso? Não. Jamais eu aceito algo assim como cristão. Porém, eu não sou essa mãe. Aliás, nem teria como EU, homem, cometer esse pecado. Por que eu teria o direito de forçar alguém a não cometer um pecado que nem eu estou sujeito a praticar? E, mesmo que me fosse possível cometer sendo mulher ou mãe, eu não tomo decisões, com base em minha moral, sobre as outras pessoas. Não adianta eu querer que ninguém faça aborto, que ninguém faça um pecado, se Deus nos deu o Livre arbítrio e eu mesmo sou um pecador e se todos nós já pecamos alguma vez na vida. Mesmo que esse pecado seja um dos maiores, não deixa de ser pecado como os que eu, você e qualquer outra pessoa já praticou. Mas posso te contar uma coisa?
Todos pecamos.
Então, todos devemos ter as mesmas consequências.
Pecador é pecador.
E sendo assim, porque você acha que Deus pode perdoar você pecador e não outra pecadora com um pecado maior e diferente dos que você pecou?
O que muda para o seu livre-arbitrio de quando você pecou, para o livre arbítrio dela?
Te respondo:
Nada.
Não somos nós que perdoamos a nós mesmos. Não somos Deus. Deus é quem decide.
Assim como você julga, você será julgado.
Essa é a diferença, entre indivíduo e Estado. O Estado não pode decidir por você. Você sim. Assim como você não pode decidir pelo Estado, o Estado sim. Seja o Estado aqui da terra, ou mesmo o dos céus.
Nem tudo tem a ver com você.
"Então, o que devemos fazer?" "Mesmo assim, eu não consigo aceitar o aborto, é uma vida ali dentro" "Isso é horrível!"
Essa é a questão.
Esse é um ponto que todos concordamos. Os que criminalizam e os que defendem.
É uma vida.
E assim como toda vida, tem o livre arbítrio. A mãe também é uma vida, tem o livre arbítrio.
Há a hipocrisia em querer controlar a mãe de seu livre arbítrio, em favor do livre arbítrio do filho.
Claro, é uma decisão horrível. De certeza total, toda mulher, que pensa nisso, racionalmente, tem ciência disso. Tem ciência das consequências. Algumas ficam traumatizadas por anos. Mas, repito:
É uma decisão. Uma decisão que envolve alguém.
Assim como matar alguém, cometer adultério, roubar alguém, como levantar falso testemunho, entre outros diversos pecados (inclusive algum que você mesmo possa ter praticado) envolvem alguém. E se não, envolve você e a sua índole, seus princípios, sua moral.
Qualquer pecado envolve consequências. Mas, sempre há uma luz: o arrependimento que permite o perdão.
Deus ama a todos nós e enviou seu filho para nos livrar do pecado e nos ensinar o que é o amor. O mesmo filho que foi crucificado por quebrar regras. O mesmo filho que perdoou seus agressores. O mesmo filho que aceitou um dos crucificados ao seu lado, julgado e acusado de qualquer crime ou pecado que for, do seu lado no paraíso. E nem sequer o viu como pecador, mas como irmão. O mesmo que nos ensinou o amor, o perdão e o renascimento.
O filho que ensinou que não faz sentido jogar pedras em alguém por ser pecador igual a você. O que julgou e perdoou, porque só ele pode fazê-lo.
Como ser cristão sem ter as mesmas atitudes de Cristo? Ou, pelo menos, o mesmo pensamento e capacidade de amar e perdoar?
Então para quê jogar pedras, só porque Cristo não está aqui para impedir?
Se for assim, então eu irei. Por ser cristão, por buscar ser como Ele.
Por fim, quero que saiba que não dou estímulo ao aborto por vontade (o aborto já é legalizado para determinadas situações justificáveis, que não pela vontade, como o estupro e que são até compreensíveis no motivo) Assim como não aconselho a prática de nenhum pecado. Assim como te entendo se pecar, pois eu também já pequei. Apenas defendo o direito do Estado aqui da terra para decidir, com base no conhecimento da gravidade das consequências, como todo ato traz. E do Estado lá do céu para julgar e perdoar conforme as suas leis. As leis que Jesus nos ensinou, dentre as maiores, o amor. Por isso, saiba que, independentemente do que fizer, você é um filho de Deus como eu. E eu sei que, assim como eu desejo, Deus é bom para perdoar aqueles que se arrependem. Assim como disse a mulher salva do apedrejamento: "Vá, e não pequeis mais". A escolha é sua. E só sua. E é dever de todo cidadão defender que o Estado dê todo o atendimento e aconselhamento necessário sobre a escolha, mas, se for o caso, permitir pelo menos o tratamento mais digno possível em favor do que em si defende este mero texto: A vida.
Não defendo o aborto. Não defendo o pecado. Defendo o livre-arbitrio e o amor ao próximo.
Ps. E só um último recado para a repercussão atual:
Então disse Jesus: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas".
Mateus 19:14
e disse: "Eu asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus. "Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo.
Mateus 18:3-5
Leia todo o capítulo 18 de Mateus.
Se quiser extender, ao 19 e 20.
Referências
VEIGA, Edilson. As maiores vítimas do aborto no Brasil. Notícias Uol. 21 de fevereiro de 2020. Disponível em:<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2020/02/21/as-maiores-vitimas-do-aborto-no-brasil.htm> Acesso em: 22 de agosto de 2020.
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