"ONDE HOUVER O DESEPERO QUE LEVE A ESPERANÇA"

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18 de outubro de 2016

[TERÇA] - O Protagonismo da Juventude e a EVANGELIZAÇÃO


O assunto de evangelização da juventude pouco volta à tona no meio eclesial bem como  reduzidos espaços de formação das pastorais da juventude no país. No entanto, a sua perda de prioridade nos condiciona a viver uma histeria coletiva de tendências do marketing e da indústria cultural dentro da igreja e, sobretudo, nas práticas rituais.

Em todo o Brasil a prática mais utilizada para evangelizar jovens é tentar afastá-lo do mundo, como se o mundo fosse objeto de afastamento e não de inserção para solucionar seus problemas.

Encontros de jovens nas igrejas são marcados principalmente por shows (cristotecas, “barzinhos de Jesus”, etc), celebrações espetáculos, ritualizações da fé, através de discursos e ambientações focadas em mastigar a sensibilidade do jovem e transformá-lo num ser cheio de sofrimento e de pecados, culminando em sua recuperação quando “se encontra com Cristo”. E, sobretudo, a infantilização e dependência do jovem para com a igreja na sociedade de hoje.

Poderíamos ficar horas discutindo cada aspecto inerente a esses momentos. No entanto, haja vista que carecemos de espaços de discussão de outras possibilidades, me lanço na contramão do discurso homogêneo de evangelização da juventude e insisto na proposta de um evangelho encarnado no meio do povo e uma espiritualidade engajada em descobrir Jesus nas pessoas, numa proposta reinocêntrica.

A prática mais comum dos ensinamentos com a juventude é o enfrentamento com o mundo – onde tudo é mal -, e a criação de um espaço de “fuga da realidade”, fomentando a contenção da discussão dos processos de evolução da adolescência, juventude e a fase adulta, confluindo numa imposição de leis que serão determinantes no amadurecimento, ora de um sujeito fundamentalista, ora de um indivíduo decepcionado com o papel da religião em sua formação.

O Papa Paulo VI, implementador das decisões do Concilio Vaticano II, escreveu em 1974, na “Evangelii Nutiandi”, que “entre evangelização e promoção humana existem laços profundos”. De tal modo, não se pode pensar a evangelização como ação eclesial sem que as preocupações com a promoção humana lhe acompanhem. Ou seja, a preocupação da igreja não deve ser sua autoafirmação nos espaços públicos, com ritualismos e marchas louvando o ego ou um sentimento de pertença a um grupo. Muito pelo contrário, é debruçando-se sobre o ser humano, com todo homem e mulher, e em sua plenitude, é isso que trabalhou a 

Teologia da Libertação em dar linhas para se pensar uma Pastoral da Juventude.
Falando em Papa, Francisco optou, a partir de sua raiz latino-americana, enquanto líder da igreja, por humanizar o papado, fortalecendo gestos, preocupações e palavras que encantem os menores. Frisando ações de protagonismo. E, se protagonismo é mover-se, movimentar-se, neste sentido, vale lembrar o difícil gesto da alteridade dentro da prática das juventudes: a missão. Segundo o Papa Francisco no Brasil em 2013, na ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ): ‘Eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório’ [1]. 
O trabalho com as juventudes implica envolver sua espiritualidade nos tantos marginalizados do nosso tempo.

Debruçar-se sobre a violência contra a mulher nas periferias e nas igrejas, impregnadas do machismo que julga seu corpo, suas vestes e suas escolhas; sobre o genocídio da juventude negra no Brasil; sobre a intolerância religiosa para com as religiões de matriz africana; ou os diversos casos de morte por homo-lesbo–transfobia (palavra que não nos deveria parecer estranha); e, sobretudo, sobre a destruição da terra e a morte dos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Reconhecer o protagonismo da juventude deve significar um novo olhar sobre aspectos como a equidade de gênero, identidade negra, ecumenismo, os direitos LGBTS, dentro e fora de nossas igrejas, além do resgate de elementos da cultura indígena sobre o bem viver (sumak kawsay) em nossa espiritualidade.

O desafio da evangelização no século XXI é considerar a importância da religião como espaço de aprimoramento, reconhecimento e engajamento de seus dons a partir da proposta de vida comunitária (reinocêntrica), indo na contramão da sociedade de mercado que tudo mercantiliza, consome e depois descarta. O jovem necessita se reconhecer em outros, por isso a importância das rodas, danças circulares, debates sobre a situação social e econômica de sua comunidade e do mundo, de modo que forje sua maturidade para enfrentar os problemas sociais. Se faz necessário ainda vivenciar seu corpo – sem castrações (proibir sexo) -, e repensar o desenvolvimento de seus desejos e sabores, com responsabilidade e cuidado.

Desse modo, vivências, dinâmicas, facilitações e experiências de encontros com o outro o permitirão dialogar sobre esses processos, e não o oprimir, na descoberta de uma vida afetiva sadia, cordial e aberta ao pluralismo contemporâneo. Por último, desenvolver uma compreensão histórica, fundamentada na espiritualidade do caminho dos mártires da nossa terra, de uma compreensão do reino, da importância da missão e de um horizonte, no qual a fé deve transpassar a vida em serviço e paixão pelos outros.

Nessa tríade se firma o fundamento sobre qual a evangelização da juventude, ou melhor, a educação no seguimento de Jesus, deve ser praticada, numa pedagogia popular, circular e protagonista, que se encontra na comunidade, no corpo e na alma.

Fonte:
https://teologialibertacao.wordpress.com/2015/04/23/a-evangelizacao-da-juventude-e-o-protagonismo-juvenil/

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