"ONDE HOUVER O DESEPERO QUE LEVE A ESPERANÇA"

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30 de janeiro de 2019

ENTRE DOR, INDIGNAÇÃO E PREOCUPAÇÃO, por: DOM FREI BETO

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BISPO DA DIOCESE DE JUAZEIRO – BAHIA
ACERCA DOS CRIMES EM MARIANA E BRUMADINHO
“Dito isso, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a
saliva e aplicou-a nos olhos do cego” (João 9,6)
Nestes dias estamos na Arquidiocese de Mariana, Minas Gerais, assessorando um
Encontro de Formação Permanente para presbíteros do Regional Leste II da CNBB (Minas
Gerais e Espírito Santo). Bem perto, geograficamente e no afeto, das vítimas dos crimes
provocados pela Companhia Vale do Rio Doce, para a qual o lucro e os sucessos nas
cotações importam incomparavelmente mais que vidas humanas e de tantos outros
elementos da Criação, nossa Casa Comum. Compaixão e indignação são sentimentos que
perpassam nosso coração de pessoa humana e de Pastor do Povo de Deus. Até que ponto
chegamos! A ganância e a avidez pelo lucro enceguecem e desumanizam os responsáveis
por esses crimes hediondos e ferem o princípio fundamental do valor incondicional da Vida
(princípio ético de qualquer civilização). Vítimas de Mariana ainda esperam, entre dor e
cansaço, seus direitos serem respeitados e assegurados.
Temos, ainda, acompanhado com grande apreensão os risco reais de que o veneno
que escorre com a enorme quantidade de lama, substâncias e sedimentos diversos em
densidade e em grau de contaminação, chegue às águas do Rio São Francisco, nosso Velho
Chico. Ele é nosso irmão e o pai das populações por onde suas generosas águas fluem até
desaguarem na imensidade do Atlântico (após percorrerem 2.700 km de sua extensão).
Estudos realizados comprovam que tal veneno nem sempre terá a visibilidade da lama que
destrói e provoca mortes imediatas, comporta grau nocivo e letal. Podemos imaginar,
apreensivos, o que pode ocorrer se medidas efetivas e imediatas não forem tomadas no
sentido de que esse material contaminante não chegue à bacia hidrográfica do Rio da
Integração Nacional.
Convocamos a todos, pois, a exigirmos das autoridades competentes que sejam
tomadas medidas cabíveis e urgentes no sentido de garantir a preservação de rios e
córregos ainda não envenenados pelo fel dos criminosos movidos pelo afã do dinheiro “fácil”.
Existem mais 332 barragens na bacia do Velho Chico. Tais medidas são plausíveis e os
recursos para tantos não faltariam quando legal e eticamente exigidos de quem tanto se
beneficiou com a vulnerabilidade de populações inteiras e de tantos a elementos da Criação.
Por outro lado, pedimos ao Senhor que a lama que corre e escorre, represas de
ganância e cobiça, abra nossos olhos das brumas que ofuscam a sensibilidade moral e a
responsabilidade pelo cuidado com a Vida. Que não represemos, com olhos abertos pelo
toque recriador daqu’Ele que com uma porção de lama abriu os olhos do cego, nossa
compaixão indignada e a capacidade de repensarmos este mundo e nossa convivência.


+ Frei Carlos Alberto Breis Pereira, OFM

Fonte: http://ofmsantoantonio.org/?p=10466&fbclid=IwAR2wK6nUyih5GtJUrf4NT32jNi-ZuCJuHo51XKcxiJKgNBmO6NN6mNauCYU 

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