Para que uma pessoa exponha seus segredos, é
necessário haver certo grau de intimidade com outra. Mesmo que haja laços de
parentesco entre elas, é necessário haver intimidade. Assim também acontece
entre mãe e filho. Ao pedirmos que Nossa Senhora nos revele, exponha os
seus segredos, faz-se necessário que nos coloquemos de pés descalços ou, porque
não, de joelhos, como quem pede: “Revela-nos, mostra-nos teu coração! ” Só
assim estaremos aptos a receber, ou melhor, compartilhar do seu segredo.
Segredo
de Maria
Esvaziemo-nos. Façamos silêncio. Aquele silêncio
que pairava no mundo em suas origens e que pairou no ventre de Maria. Façamos
silêncio. Falemos com nossa alma: Silencia alma minha! Cala ruído de minhas
vontades! Silêncio, mundo que me atrai! Alguém que amo vai me contar um
precioso segredo. Este, se não mudar o mundo, com certeza mudará o meu mundo,
se eu permitir. Mãe, conta-me teu segredo.
É no abismo do bem querer de Deus que começa o
segredo de Maria. O que isso significa? Nosso ponto de partida encontra-se no
relato do anúncio do Anjo Gabriel (Lc 1,26-38). Nessa passagem, percebemos que
a iniciativa da oração sempre parte de Deus. Ele é, de certo modo, o mendigo de
Amor, pois se encontra a bater à porta de nosso coração. Em uma constante
atitude de espera, de súplica, está sempre pronto a ir ao nosso encontro e
convidar-nos para o banquete. Não importa o estado em que nossa alma se
encontra nem por quais caminhos tortuosos tenhamos andado. Ele está sempre a
nos esperar, disposto a nos enlaçar em seu abraço de Pai.
Ternura do amor de Deus
O segredo de Maria consiste em deixar-se
constantemente abraçar e em ser alcançada por esse amor. Consiste, ainda, em
permitir que as torrentes da infinita ternura de Deus a surpreenda, como em
inúmeras vezes na sua história. Por isso, as gerações a conhecem como a
Bem-amada, Bem-aventurada, a Imaculada Maria.
Precisamos redescobrir em nós, em nossa vida, que
somos bem-amados. A verdadeira oração consiste em, antes mesmo de amar,
sentirmo-nos amados. Mais que sentir, sabermo-nos amados, reconhecermo-nos
amados. Na Primeira Carta de São João (I Jo 4, 10) está escrito: “Nisto consiste
o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos
o seu Filho”. A experiência inicial e incondicional para qualquer chamado
autêntico e essencial é a de ser amado. Sou amado e por isso respondo com amor.
Ao mergulharmos ainda mais no segredo de Maria, a
profundidade a que chegaremos somente o Espírito Santo poderá medir. Pensemos
que outra característica da iniciativa divina é a liberdade. Deus escolhe quem
quer. Ele é livre, ama sendo livre e liberta, porque ama. Nesse âmbito, olhemos
para a Imaculada Conceição.
Deus quis fazer Maria sem mancha de pecado, porque
Ele é livre. Esse amor a libertou uma vez e para sempre, tornou-a sem mancha,
purificou-a e a fez participante por primeiro dos méritos de Seu Filho. Eis que
seu amor profundo cria a Arca da Nova Aliança. Quis deixar-nos marcados não
mais pela lembrança daquela humanidade que desejou ser como Deus, e sim, pela
mulher que soube encantá-lo ao se fazer escrava para fazer a vontade do Pai e
se tornar a mãe de Salvador. Esse mesmo Deus, em sua liberdade, escolheu você
para ser filho de Maria, para ser seu bem-amado!
Transpor
as dificuldades
O segredo de Maria de nada nos serviria se não o
conseguíssemos transpor para nossa vida. Podemos encontrar a presença do amor
de Deus nos acontecimentos simples do dia a dia, seja ao receber uma palavra de
conforto de um irmão ou a sua oração por nós. São pequenos mimos de um Deus que
ama. Muitas vezes, isso acontece não só naquilo que nós desejamos, mas em
coisas que nós nem sabíamos que precisávamos. Acontece em dificuldades por
vezes nem conhecidas ou em realidades que já conhecemos, mas diante das quais
não teríamos coragem de seguir em frente devido às renúncias que nos seriam
exigidas. É preciso amar muito para renunciar, para aceitar a correção e para
ter a coragem de corrigir, de educar a alma. Deus nos envia provações, porque
nos ama.
Às vezes, estamos esperando espetáculos do Senhor.
Maria sabia o segredo: Deus é maravilhoso, não mágico. É poderoso, não é
fantasia. Ele se revela em gestos constantes de amor, presentes e inesperados.
A vontade de recomeçar que temos é Deus amando! É como o amanhecer que renasce
todos os dias! Não importa o tamanho da dificuldade que temos em rezar, Deus
está nos amando de novo. Eu sou seu bem-amado, sua bem-amada. Ele está tomando
a iniciativa. É o silencio da luz que ressurge rompendo as trevas, não
importando o quanto dure a noite.
Fonte: Canção Nova
Pesquisa: Iasmim Fonseca
Revisão: Danilo Nery
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