" Apesar de lido explicações sobre a validade da oração pelos falecidos, continuei com dúvidas. Em Mateus 8,22 entendo que temos que fazer algo de nossa vida enquanto temos vida e não depois da morte. Por que nós católicos, continuamos com a missa de 7º dia? (Keila Aparecida - São Sebastião, SP)Começaremos a nova série " OS CATÓLICOS PERGUNTAM" com um tema escatológico tentando decifrar a seguinte pergunta: POR QUE REZAR PELOS MORTOS?, de acordo com o questionamento que vimos acima e segundo a sagrada escritura devemos reconhecer que ninguém deve merecer coisa alguma na vida póstuma, e o que vale é o que fazemos da nossa vida enquanto temos ela. Tentaremos responder a esse questionamento dividindo nossa explicação em 6 etapas.
Etapa 01
- Devemos reconhecer que ninguém pode merecer coisa alguma na vida póstuma; é nesta vida que nos formamos, praticamos obras boas, pois a morte nos estabiliza em nossa última opção. Tal como estivermos na hora da morte, assim ficaremos para sempre em nosso relacionamento com Deus. Se alguém morre com sincero amor a Deus, não recairá no pecado, porque ter-se-á estabilizado no bem; e se alguém morre consciente e voluntariamente avesso a Deus, não poderá se converter ao Senhor. Essas verdades são clássicas no Cristianismo.
Etapa 02
- Coloquemos agora uma pergunta : se alguém morre com seu amor sinceramente voltado para Deus, mais ainda portador de resquícios do pecado, como impaciências, maledicências, omissões... que ocorrem no dia dia, essa pessoa ESSA PESSOA PODERÁ VER DEUS FACE A FACE? Deus é três vezes Santo; pode alguém contemplá-lo com a alma ainda carregada de pecado, mesmo que seja apenas pecado leve? A lógica nos diz que não; há contraste entre santidade de Deus e qualquer tipo de pecado, de modo que a própria alma da pessoa falecida sentirá o despropósito e também o desejo de preparar-se devidamente para a visão de Deus face a face.
Etapa 03
- A esta altura alguém dirá: " Mas Cristo já satisfez por mim, de modo que estou livre de meus pecados. Quando eu morrer, Cristo me recobrirá com seu manto de justiça ou santidade e assim eu, pecador, passarei por Santo diante de Deus. Não me devo importar com a eliminação dos "pecadinhos" e das más tendências, por isso seria impossível e inútil; basta a satisfação prestada por Cristo em meu nome, para que o Pai do céu me aceite" .
Responderemos com Santo Agostinho, dizendo: "Aquele que te criou sem ti, não te salva sem ti". Isso que dizer que Deus nos oferece as graças, os recursos da salvação, o sangue precioso de Cristo, mas quer que recebamos consciente e voluntariamente; se Ele nos deu inteligência e vontade, Ele quer que as apliquemos aos interesses de nossa salvação, encaminhando-nos consciente e voluntariamente para Ele na luta contra o pecado e na procura de uma pureza maior até chegar a ser total.
Etapa 04
- Eis que alguém poderá fazer a seguinte ilação: não estamos invencivelmente sujeitos ao pecado? É possível extinguir toda raiz do pecado existente em nós?
Respondemos que sim; é possível e até necessário. É o próprio São João quem no-lo diz em ¹Jo 3,2s: "Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manisfestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manisfestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele e. Todo aquele que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro".
E bem claro o pensamento de São João: somos chamados a ver Deus face a face e para que isso aconteça, devemos procurar purificar-nos para sermos puros como Ele (Jesus) é puro... O sermão da montanha nos incita a procurar sempre mais a perfeição, dizendo até: " Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito". (Mt 5,48).
Etapa 05
- Perguntará alguém: E SE O CRISTÃO NÃO CONSEGUIR ERRADICAR TODA RAIZ DE PECADO ATÉ A HORA DA PASSAGEM, O QUE ACONTECERÁ?
Acontecerá o seguinte: Deus, em sua misericórdia, concederá uma chance póstuma de purificação, que é precisamente chamada de "purgatório". Este não é um lugar com fogo e diabinhos atormentando a alma, mas é um estado póstumo, no qual o cristão verá, com toda a nitidez, que o "pecadinho" é uma coisa séria e deve ser repudiado com todas as fibras do nosso coração; não pode haver complacência com o pecado, na outra vida teremos a chance de repudiar pecado com mais ardor do que neste mundo, quando ele nos seduz muito sorrateiramente.
Por conseguinte, existe o purgatório póstumo, aliás documentado em ²Mc 12,38-45 e ¹Cor 3,10-15.
Etapa 06
- Vem agora a questão final: mesmo dado que existe o purgatório, ainda subsiste a indagação: PARA QUE SERVE NOSSAS ORAÇÕES PELOS MORTOS, SE A SORTE JÁ FOI DEFINIDA? Nossa oração pelos mortos não tem por objetivo obter a conversão dos que partiram para o além em pecado grave; ela tem em vista aqueles que partiram desta vida convertidos ao Senhor, mas ainda carregados de impurezas (caso que, aliás, parece ser bastante frequente). Pedimos a Deus por essas almas, para que o amor de Deus, nelas existente, penetre o fundo do seu ser e extinga todo amor desregrado e todo aquele apego ao pecado. É esse o sentido da oração pelos mortos; é um ato de caridade para com nossos defuntos. Se nós rezamos por nossos irmãos nesta vida quando estão doentes ou atribulados, por que não rezaríamos por nossos irmãos, na outra vida, necessitados de acabar a purificação dos seus afetos para poder logo ver Deus face a face? A caridade deve ser a mesma para com os da Terra e os além, somos solidários uns com os outros. Deus, que assim nos fez interdependentes, não permite que a morte interrompa a comunhão que ele estabeleceu entre nós.
Vemos assim, o valioso significado da Comunhão dos Santos, na qual rezamos por nossos irmãos que passaram para outra vida, e eles por nós. E - notemos bem - o melhor sufrágio pelos mortos é certamente o Santo Sacrifício de Cristo oferecido sobre os nossos altares.
PAZ E BEM
[Texto retirado e adaptado do livro "Perguntam os católicos" escrito por DOM Estêvão Tavares Bettencourt.]
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